terça-feira, 9 de agosto de 2016

Minestrone Cultural VI


FOSTER BROOKS E DEAN MARTIN



O maravilhoso FOSTER BROOKS (1912/2001), quebrando Dean Martin ao meio. Uma aula de timing e de talento. (27/05/2016)

THE MAN WHO LAUGHS (1928)

O maravilhoso Conrad Veidt

Por que demorei tanto para conhecer e assistir essa maravilha dirigida pelo alemão Paul Leni? O filme é baseado no romance de Victor Hugo sobre um garoto cujo pai é assassinado a mando do rei da Inglaterra, e ele tem seu rosto desfigurado pelos "comprachicos", ciganos criminosos que desfiguravam crianças para torná-las grotescas atrações de circo. Traz como protagonista essa jóia que era Conrad Veidt, a própria personificação do que poderia se chamar "expressionismo alemão".

Aparentemente o estúdio queria Lon Chaney para o papel de Gwynplaine, mas este já assinara contrato com a Metro. Gosto de Chaney, mas mal sabiam os engravatados da Universal a sorte que tiveram de escalar Veidt. Seu rosto, e sobretudo seus olhos, são um carrossel de emoções. O trabalho de Veidt é simplesmente sublime. O mesmo pode e deve ser dito do elenco impecável que inclui Mary Philbin como a doce e querida Dea, Cesare Gravina como o oportunista de bom coração, Ursus, Brandon Hurst como o facinoroso e sádico Barkilphedro, Olga Baclanova (idêntica à Madonna na década de 80), como a fútil e voluntariosa duquesa Josiana, Stuart Holmes como o cretino Dirry-Moir e assim por diante.

Lamenta-se que Leni tenha morrido no ano seguinte. Era um grande diretor e tinha uma carreira magnífica pela frente. O filme suaviza alguns aspectos do livro de Victor Hugo, que tem contornos de tragédia e um final terrível. Para quem ainda não sabe, o personagem "Joker", do Batman, foi criado por Bob Kane a partir da caracterização de Conrad Veidt para Gwynplaine.

Obrigado, Dione, pela indicação.
Recomendo enfaticamente. (18/06/2016)

AN ENEMY OF THE PEOPLE (1978)

Steve Macqueen, no papel de Thomas Stockmann

Como tantos atores estereotipados seja pela beleza, seja pela predominância de um único tipo de personagem, Steve Macqueen um dia se encheu de interpretar sempre o durão cool, armado, de moto e óculos escuros. Queria realizar uma transição completa para os papéis sérios, que envolvessem verdadeiro trabalho de interpretação como aquele que aprendeu quando fez parte do Actor's Studio, na década de 50.

Concluindo "Inferno na Torre" em 1974, e catapultado ao olimpo hollywoodiano, Macqueen tocou o proverbial "foda-se" de quem não precisa mais se curvar ao establishment e jogou seu cachê na estratosfera, com o fito exclusivo de evitar ofertas vazias. Acabou evitando todas as ofertas, tal era a quantidade de dinheiro que pedia para estrelar qualquer coisa.

Depois de quatro anos de tédio, no qual só trabalhou em um filme B por prazer, sem cobrar nada, enamorou-se da adaptação de Arthur Miller para o grande texto de Ibsen, "Um Inimigo do Povo". Era exatamente o que queria. Um papel sem nenhum tipo de ação, transbordando diálogos, e no qual ele poderia esconder-se de sua própria aparência, deixando crescer cabelo e barba. Convidou George Schaeffer para dirigir, um belo elenco coadjuvante e pôs mãos à obra.

O esquisitíssimo cartaz de
An Enemy of the People
Pronto o filme, a Warner ficou absolutamente perdida; não sabia como promover um filme que trazia uma espécie de Macqueen ao contrário. O próprio cartaz do filme é ridículo, misturando fotos do ator em diferentes papéis, incluindo no centro o seu personagem em "um Inimigo do Povo", Thomas Stockman. Um desastre que resultou no naufrágio do filme nas bilheterias. Foi o ante-penúltimo trabalho de Macqueen, que morreu de câncer dois anos depois. Quando surgiu o VHS imaginou-se que o filme teria um renascimento massivo, homenageando o ator e seu esforço por realizar obra tão significativa. Não foi o que aconteceu. "Um Inimigo do Povo" empoeirou nas estantes da Warner por mais de 30 anos até aparecer, finalmente, em DVD.

É um filme bonito e muito bem feito. Não me pareceu que atingisse a profundidade do texto de Ibsen, ou que Macqueen conseguisse reproduzir a multiplicidade de sentimentos suscitados pela desdita de Stockman. Mas ele merece encômios. Sua performance é contida, correta e sem exageros. Não é genial, mas vislumbra-se o que ele poderia ter se tornado, não tivesse perdido a vida para o câncer com apenas 50 anos. O trabalho é muito valorizado pelas interpretações do maravilhoso Charles Durning e da musa de Bergman, Bibi Andersson. 

Lamenta-se que seja trabalho tão desconhecido.
Recomendo, para quem puder encontrar. (26/06/2016)

COLONIA (2015)

Na esteira da extraordinária fama obtida durante anos interpretando a 'braniac' Hermione Granger, Emma Watson tem tentado traçar para si uma carreira que faça diferença no mundo. Desde projetos LGBT ou de simples empoderamento feminino até filmes com temática política ou social, Watson nos dá o prazer supremo de passar ao largo - no mais das vezes, com poucas exceções - de caça-níqueis que lhe renderiam fortunas mas manchariam sua reputação. O mais recente de seus projetos é o filme "Colonia Dignidad", dirigido pelo alemão Florian Gallenberger e co-protagonizado pelo tambem alemão Daniel Brühl, e pelo sueco Michael Nyqvist.

Baseado em fatos reais, conta a história do casal anglo-alemão formado por ela e Daniel Brühl - ela aeromoça e ele um militante de esquerda - que se vêem no estopim da revolução chilena de 73 que depôs Allende e levou ao poder o general Pinochet. Preso, Brühl é levado à misteriosa "Colonia Dignidad", que na superfície era sede de uma seita de fanáticos religiosos liderada por um alemão psicopata, sádico e pedófilo. E por dentro funcionava também como um laboratório de tortura e assassinato de presos políticos, além da fabricação de armas de destruição em massa. Desesperada e determinada a salvar o namorado, Watson se infiltra na Colonia.

Suspense de boa qualidade, com ótimas interpretações. Muito bom, e tanto melhor por revelar mais essa faceta monstruosa da ditadura chilena.

Recomendo. (30/06/2016)

A LETRA ESCARLATE (1927)

Poster original de The Scarlet Letter

Meus caros, na primeira metade do século XX, os filmes norte-americanos e europeus seguiam um roteiro comercial que podia provocar demoras de até dois anos no seu lançamento brasileiro. No caso de "The Scarlet Letter", adaptação de Frances Marion para o famoso livro de Nathaniel Hawthorne, com direção de Victor Sjöström, trazendo a maravilhosa Lillian Gish no papel de Hester Prynne, a demora foi de apenas seis meses. Estreou no mundo inteiro em agosto de 1926 e chegou ao Brasil em abril de 1927.

O Jornal, 9/4/1927
Sua estréia brasileira ocorreu no Theatro Casino, no centro do Rio. A propaganda foi desenhada por um sujeito chamado "Annibal", calcando um dos posters do lançamento norte-americano. Mas nota-se que disfarçou o erotismo do desenho original, onde vemos Lilian Gish abrindo sua camisa e mostrando a letra na própria pele, colocando a letra por sobre a roupa. Apareceu em O Jornal, de 9 de abril de 1927. (29/05/2016)

A maravilhosa Lillian Gish no papel de Hester Prynne

MACBETH (2015)
Direção de Justin Kurzel

Esperei dois anos para ver esta versão. Nem sei se ela entrou em cartaz no Brasil. O que sei é que outro dia lembrei dela, e na primeira procurada encontrei o torrent disponível.

Assisti. E nem sei por onde começar.

Resumindo: é a uma das piores versões que já vi para a tragédia escocesa. O filme tem TRÊS roteiristas, o que já não é bom sinal em se tratando da milésima adaptação de um texto que tem 400 anos. O que eles fizeram foi cortar falas e cenas, pura e simplesmente. Cortaram monólogos importantíssimos, cortaram diálogos seminais entre Macbeth e sua esposa, cortaram Donalbain e o porteiro (até aí não me importo porque Orson Welles fez o mesmo; ademais, o primeiro é personagem de fato dispensável e o segundo tem falas só compreensíveis ou cômicas na época de Shakespeare), cortaram 90% da cena do extermínio da família de Macduff, cortaram tudo.

Cortaram tanto que não se distingue o momento em que Macbeth se deixa entorpecer pela idéia do poder absoluto, e o processo pelo qual Lady Macbeth se envenena com a própria perversidade e enlouquece. O assassinato de Duncan, no texto original, vai de sua concepção, passando pela negativa inicial de Macbeth, sua concordância, sua realização parcial, o arrependimento e o pavor - um dos diálogos mais emocionantes da peça (ato 2, cena 2) - e a conclusão, que vai até a fuga de Malcolm e Donalbain e as conversas posteriores, onde se verifica que Macbeth herdará a coroa e os prováveis culpados pela morte de Duncan são seus filhos. Tudo isso foi substituído mostrando Macbeth apunhalando Duncan, seguido uma interpolação de falas esquisitíssima em que Malcolm vê Macbeth ao pé da cama do pai morto, vira as costas e vai embora. Ridículo. Há dezenas de outros cortes, mas paro por aqui.

O elenco foi um triste equívoco. Confesso que me empolguei quando soube da escolha de Michael Fassbender e Marion Cotillard. Pouco foi necessário, entretanto, para que eu constatasse meu engano. Fassbender é muito carismático e um bom ator. Mas não é um ator trágico. Pelo menos em se tratando de teatro clássico. Seu Macbeth é abúlico, enfermo de ânimo e dá as falas como se estivesse drogado. Quando tenta vôos mais altos tropeça na limitação de sua voz. Seja por isso ou pela péssima direção, ele passou longe da dramaticidade inerente ao personagem. Tem muito que aprender antes de descascar um tótem interpretativo como Macbeth.

Cottilard: desperdício
Marion Cotillard é maravilhosa mas seu papel está tão mutilado que não sobra oportunidade para que ela dê vida à sua Lady Macbeth. Um desperdício astronômico. David Thewlis não tem nada a ver com Duncan. Primeiro que não representa a velhice necessária ao papel, o que torna implausível a pressa em tornar Malcolm príncipe de Cumberland. Segundo que, mais uma vez, o texto foi tão cortado que não permite que o espectador sinta, junto a Macbeth, o carinho e o respeito pelo rei provecto e venerável, compreendendo as reservas morais do protagonista quando tem que matá-lo, e a terrível dor de consciência que o acossa quando o faz. Da mesma forma, o público não alcança a gravidade do que foi feito a Macduff e assim, não comunga com ele de seu desejo patológico de vingança.

E assim o filme segue, desamarrado, mal engendrado, mal concatenado, desperdiçando esse monumento literário shakespeariano. Poderia enumerar mais uns vinte defeitos dessa versão, mas creio que a coisa já ficou clara.

Lamento.
E não recomendo. (31/05/2016)

BANDALHEIRA














Confesso que levei um susto quando abri o UOL de hoje. Pensei, assim como o Maneco da crônica de Nelson Rodrigues: “Bonito! Descobriram alguma bandalheira minha!” (23/06/2016)

TONARI NO TOTORO (1988)

Mais um Miyazaki, só que desta vez da década de 80. "Tonari no Totoro" (となりのトトロ), ou "Meu Vizinho Totoro" fala da interação de duas meninas com espíritos da floresta, em especial um deles, Totoro, que conheciam de um livro de histórias infantis. O personagem - popularizado pelo filme a ponto de ser hoje um dos mais conhecidos do Japão, além de estar no logotipo dos estúdios de Miyasaki - pode tanto significar uma espécie de suporte espiritual para as crianças que tiveram seus lares desfeitos de uma forma ou de outra pela guerra, como ser símbolo da integração benéfica homem/natureza. A mensagem ecológica é clara. Entretanto, foi só depois de ler mais sobre a produção (o que fiz pois estranhei o telefone usado por Satsuki em uma das cenas) que fiquei sabendo que a história se passa em fins dos anos 50, enquanto o Japão ainda vivia a ressaca pós segunda guerra.

Não escreverei, porém, sobre o filme, ou de minhas impressões a respeito do que vi por duas razões: a primeira é que tudo que se precisa saber sobre ele está no verbete em inglês da wikipédia. Segundo porque depois de três filmes desse gênio incomparável que é Miyasaki, já se sabe o que direi: é lindo, é emocionante, é balsâmico. (03/07/2016)

KÁTIA

Kátia em 2013
1991.

Bastidores do Palladium, casa de shows no Shopping Eldorado, que depois virou a casa noturna Resumo da Ópera e hoje é o teatro do shopping. Show do maravilhoso e inigualável Chico Anysio. Disposto a abraçar o mestre, agradecer-lhe por ter trazido felicidade à minha vida desde sempre, aguardo que se abra a porta do camarim. Alguns artistas e amigos de Chico também chegam. Vejo a grande Consuelo Leandro, dali a pouco Miriam Batucada, artistas menores, seu filho Lug, um ou outro fã de Chico e, em meio ao compacto grupo, uma mulher linda, de vermelho. Que reconheci instantaneamente.

Era Kátia Maranhão, a jornalista que alcançou a proeza extraordinária de tornar respeitável e competitivo o jornalismo de duas emissoras que sequer tinham jornalismo: SBT e da Gazeta. E conseguiu porque juntava o raro binômio da beleza e da competência. Não era como certas apresentadoras, muito bonitas e esforçadas, mas que são meras bonecas papagaiando as notícias. Quando vi Renata Vasconcelos pela primeira vez no Bom Dia Brasil lembrei-me imediatamente de Kátia. Eu queria vê-la toda noite no Jornal do SBT porque isso significava receber as notícias através de sua voz, bela e modulada, de seu rosto expressivo, da maneira envolvente com que transmitia as diferentes emoções, pelo sorriso atraente e cativante. Era ela. Kátia pré-Playboy e pré-Casseta & Planeta.

Nos bastidores do show de
Chico Anysio, em 1991
Não consegui evitar. Engoli em seco e a abordei, já prevendo aquele "oi" frio, a empáfia e o saco cheio fundamental de quem está bombando na mídia. Cumprimentei-a, num paroxismo de timidez, disse-lhe de minha admiração e lhe pedi uma foto. Sua reação: abriu os braços com a maior simpatia e me deu um abração. Agradeceu os elogios com os olhos brilhando, humilíssima, genuinamente feliz de ter seu trabalho reconhecido; brincou, envolveu quem estava por perto na nossa conversa e na hora das fotos ela divertiu a todos; tiramos uma, ela piscou, "tira outra!!!! Eu pisquei nessa!!!!", na seguinte, alguém passou na frente; ela gargalhou com aquele sorrisão lindo, "outraaaaaaa!!!"...

Inesquecível. Uma mulher linda e encantadora. (05/06/2016)

REVISTA CINEARTE, 1935


VIRGINIE


Acho que de tanto celebrar a volta do Metrô e elogiar a Virginie, acabei conjurando-a!

Estou hoje no metrô da linha amarela, sentado, completamente distraído, quando vejo se aproximar da porta, para sair na estação seguinte, QUEM? A própria: Virginie Boutaud! Sim, no METRÔ da linha amarela! Parece cabalístico, mas foi pura coincidência, além de cena tipicamente paulistana.

Sozinha, discreta, quietinha. Não agüentei. Levantei, fui até ela, disse baixo, "Virginie", ela olhou e eu falei em seu ouvido: "Você realmente achou que conseguiria andar anônima, por aí?"

Ela riu, divertida, e imediatamente lhe falei do show do Pinheiros que assisti nos idos de 85, 86. Conto-lhe do detalhe importante, ou seja, o video gravado depois do show. Digo algo como "aí vocês voltaram e disseram que iam gravar ao vivo a Tudo Pode Mudar". Ela interrompe: "Tititi". "Como assim?", pergunto eu. "Tititi", repete ela. Estava me corrigindo! Não só lembrava do show como também da música que voltaram para gravar ao vivo!

Perguntou-me a idade que tinha naquele show, se gostei, falou do show da Virada Cultural e fez propaganda do show que o Metrô fará na UNIBES, nos dias 11 e 12 de agosto. Ela é surpreendentemente alta. Sempre tive a impressão de que ela era baixinha, e é exatamente o contrário.

Com a estação chegando, disparo uma dúzia de elogios, ela agradeceu, docílima, abracei-a e ela saiu. Não haviam passado mais do que três ou quatro minutos. E eu sem um celular ou uma bendita câmera para registrar o encontro!

Mas ganhei a semana, do mesmo jeito. (25/07/2016)

No dia seguinte a doce e querida Virginie documenta nosso encontro em sua própria página do Facebook. Minha resposta a seu post é uma demonstração pequena da imensa gratidão que sinto por ela ter melhorado tanto nossa vida em período difícil e conturbado, como é a adolescência:



DON RICKLES - 90 ANOS (1)


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No dia 8 de maio o comediante norte-americano Don Rickles completou 90 anos. Ator e comediante, é seguro dizer que foi o maior "roaster" da história.

Conheci Rickles através de suas participações no programa de David Letterman nas décadas de 80 e 90 e achava-o engraçado, de uma forma meio estúpida e cínica. Foi só depois de lançarem os antológicos roasts de Dean Martin em VHS, na mesma época, que descobri quem era Rickles, de fato, e o porquê de seu humor tão agressivo.

O roast (traduzido em português como "fritada") existe há tempos nos Estados Unidos, mas atingiu seu píncaro com o Friar's Club e o programa de TV de Dean Martin. Rickles foi figura constante em ambos e era geralmente o mais temido dos roasters, mesmo roçando ombros com seus ídolos, Jack Benny, Milton Berle, Bob Hope, Johnny Carson e outros mestres. Vez por outra era o homenageado - houvesse ou não razões para tanto - simplesmente porque era impagável vê-lo nas duas posições, fritando ou sendo fritado.

Publicarei dois videos legendados com célebres roasts feitos por Don Rickles em cerimônias do AFI. O primeiro é de 1996, quando o homenageado foi Clint Eastwood, com quem Don trabalhou no esquecido "Kelly's Heroes", de 1970.

É divertidíssimo. Quem apresenta é Jim Carrey e vale a pena ver o ataque de riso absolutamente espontâneo que Rickles causa no jovem Carrey. Uma aula de humor. (26/07/2016)

DON RICKLES - 90 ANOS (2)



Continuando a postagem de ontem, na qual Rickles frita Clint Eastwood em 1996, trago hoje a cerimônia do AFI do ano seguinte, na qual a vítima é Martin Scorsese.

O interessante é que sem nunca ter sido efetivamente uma figura de proa no show business - suas tentativas de sitcom falharam, todas - Rickles era onipresente e trabalhara com praticamente todos os artistas, em um momento ou outro. É o caso de sua associação com Scorsese, no filme "Cassino". É um papel pequeno, simbólico, mas deu a Rickles, como "roast meister", a autoridade para fritar o célebre diretor. E ele cria mais um momento antológico. (27/07/2016)

DON RICKLES - 90 ANOS (3)


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O "The Kraft Music Hall Friars Club Roast" de Don Rickles foi ao ar em 30 de setembro de 1970. Contou com o apresentador Johnny Carson e os "roasters" foram o comediante Alan King, o âncora do telejornal noturno da NBC, Chet Huntley, o comediante Henny Youngman, o ator George C. Scott, o comediante Milton Berle e o apresentador Dick Cavett.

Chet foi chamado como forma de homenageá-lo, já que acabava de se aposentar de seu cargo de âncora e era muito querido pela população norte-americana. Morreu três anos e meio depois, em março de 74. Henny Youngman era violinista e comediante. Morreu em 1998. Milton Berle dividiu com Bob Hope e Jack Benny o cetro de maior comediante norte-americano. Morreu em 2002. Alan King era um excelente ator e comediante. Morreu em 2004. Carson foi o maior apresentador de todos os tempos e morreu em 2005.

George C. Scott foi chamado porque seu filme "Patton" acabava de estrear e fora um sucesso avassalador de crítica e público. O filme foi ainda mais visto quando Scott declarou, já naquela ocasião, que se fosse indicado ao Oscar, não compareceria à cerimônia porque discordava da idéia de artistas competindo entre si por um prêmio. Ele foi indicado e cumpriu a promessa: em abril do ano seguinte ganhou o Oscar e não foi. Scott era um gênio da arte de interpretar. Morreu em 1999.

Dick Cavett trabalhara com Carson desde a estréia deste no The Tonight Show. Em 1968 começou a apresentar seu próprio programa de entrevistas na ABC. Está hoje com 79 anos. Ele e Rickles são os únicos que restam daquela esplêndida noite, em 30 de setembro de 1970. (31/07/2016)

ZÉ RODRIX

Querido, talentoso e saudoso.
Encontro há 25 anos, no espetáculo de Cláudia Raia. (13/07/2016)


KARAN

Com o amado Guilherme Karan, 1993
Maravilhoso e talentosíssimo Guilherme Karan...

Tomei contato com seu talento na TV Pirata. Eu começava na época meu flerte com o teatro e o programa era repositório de uma geração magnífica de atores teatrais. Tudo me impressionou em Guilherme. Tudo nele era marcante, sobretudo sua risada e sua voz. Bobagens como o Zeca Bordoada e o monstrengo Agronopolos, ou sketches bem boladas e até mais sofisiticadas do que o público da TV Pirata, todas tornavam-se antológicas com sua participação. Lembro-me dele e de Nanini em um sketch chamado "Se a vida fosse uma ópera". Ambos cantaram, dramáticos e divertidos ao mesmo tempo, uma explosão de talento em poucos minutos de televisão. Para mim, uma verdadeira aula.

No teatro tive o privilégio de vê-lo em uma de suas (até onde sei) poucas incursões paulistas. Foi em "Lucrécia, o Veneno dos Bórgia", texto de Paulo César Coutinho e direção de Celso Saiki. O espetáculo era ruinzinho e mero veículo para a beleza de Luiza Tomé. Guilherme vivia um Maquiavel estilizado, com lentes brancas que remetiam ao personagem "Baixo Astral", do filme com Xuxa, que tanto o popularizou. Um golpezinho mequetrefe de marketing que desmerecia Guilherme; não obstante, o espetáculo só existia quando ele estava em cena. Uma presença extraordinária. Esperei para conhecê-lo na saída do Ruth Escobar. Tímido, é a palavra para defini-lo. Quanto mais extravagante, barulhento e careteiro nas telas ou no teatro, mais discreto, tímido e doce ele era no contato pessoal.

Dez anos depois o encontrei no saudoso PEQUI, em São Paulo, com os amigos. Fui conversar com ele. Abracei-o com a saudade de um verdadeiro fã. Ele foi doce e amável como sempre. Estava saudável e bem. Nem um único sinal que revelasse o mal insidioso e cruel que o acometeu tempos depois.

Um ator maravilhoso, que infelizmente não vi aproveitado como devia e merecia, seja no teatro ou na TV. Na tristeza de vê-lo partir depois de tanto sofrimento, guardo a alegria imensa de tê-lo conhecido e abraçado.

Como bem disse Eduardo Martini, que Deus te receba de braços abertos! (08/07/2016)
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