terça-feira, 7 de julho de 2015

Minestrone Cultural III

WILDE SALOMÉ

Em sentido horário, Pacino, Jessica Chastain,
Oscar Wilde e Roxane Hart
Fiquei quatro anos caçando este filme. Pacino não gosta de dirigir e quando o faz, é porque o projeto é teatral e está muito próximo a seu coração. Foi assim com "Looking for Richard", de 96, misturando documentário, teatro e cinema sobre o Ricardo III de Shakespeare. Foi a Strattford, conversou com doutores no assunto, discutiu cada cena, cada personagem, tinha uma equipe divertida e um belíssimo elenco (excetuando Winona Rider, bela fisicamente mas fraquíssima como Lady Anne). Pode-se dizer que acabou realizando uma obra prima praticamente sem querer.

Quinze anos depois foi a Salomé de Oscar Wilde que reacendeu sua veia de diretor. Desta vez não somente pela excelência da peça mas porque Pacino estava em temporada com uma leitura dramática do texto e resolveu documentá-la. Em suas palavras, trabalhava em uma peça, um filme e um documentário ao mesmo tempo.

"Wilde Salomé", porém, não é "Looking for Richard". Assisti o filme ontem e vou revê-lo ainda algumas vezes, mas minha primeira impressão não foi a melhor. Os elementos estão quase todos lá, Pacino foi à Irlanda e à Inglaterra, conversou com o neto de Wilde, estudiosos de sua obra incluindo o grande Gore Vidal (em uma de suas últimas aparições), mas a coisa não acontece. Ao contrário de Ricardo, no qual Pacino alcançou uma combinação perfeita de peça/documentário, ele parece ter se perdido neste processo. As interpolações são excessivas, em momentos equivocados e suas múltiplas queixas sobre a pressa com que tudo tem que ser feito tem cara de ensaiadas. "Looking for Richard" foi uma delícia de se ver porque conseguia juntar a tragédia da peça com o humor do documentário. Era engraçado e instrutivo, além de um verdadeiro deleite teatral. "Wilde Salomé" não tem graça. Ultrapassa negativamente a linha do documentário e vira o making of de um documentário. A última coisa que se valoriza, no fim das contas é o texto.

Jessica Chastain
É minha segunda restrição: não gostei particularmente nem de sua interpretação de Herodes e nem da Salomé de Jessica Chastain. Pacino é genial mas a exemplo do que aconteceu com grandes atores como Richard Burton, George C. Scott e até mesmo Olivier, ele é hoje um poço de tiques e cacoetes dele mesmo. Seu tetrarca abobalhado e com voz de vovô não tem nada a ver com o que eu esperava e não se coaduna com o texto limpo e escorreito de Wilde. Kevin Anderson é insípido e inodoro como João Batista; Roxanne Hart é brilhante e lamenta-se que sua Herodias seja engolida pelos outros personagens. Quanto a Jessica Chastain, é uma ótima atriz e quaisquer defeitos de sua interpretação - inclusive a famosa dança da personagem, que deveria ser catártica e para mim foi decepcionante - devem ser debitados à direção falha de Pacino.

Mesmo assim recomendo. Estamos falando de Pacino e Wilde. São bons até quando não são ótimos. (31/05/2015)

Edit de 21/06/2022: Revi algumas vezes "Wilde Salomé" e minha opinião segue sendo a mesma, sem alterações. O que posso acrescentar é que encontrei aquela que acredito ser a razão principal para Pacino ter perdido a mão, nesse trabalho: a ausência de seu amigo e braço-direito em "Looking for Richard", Frederic Kimball. O ator, que morreu em 2008 aos 75 anos, era uma espécie de contra-ponto e complemento intelectual e cômico ao trabalho performático de Pacino, e sem ele - seus comentários, seu humor e sua cultura - o trabalho perdeu duas de suas quatro pernas.


O MACBETH DE PAUL SCOFIELD (1966)

Paul Scofield no papel de Macbeth
São muitos os Macbeths cinematográficos que já vi, em vários idiomas; no teatro também tive a oportunidade de assistir algumas montagens extraordinárias, mas no primeiro lugar, junto ao Macbeth do querido mestre Luis Melo, está a versão radiofônica que descobri há pouco, do grande Paul Scofield. Trata-se de uma performance para a BBC em 1966, que vinha no rescaldo da montagem teatral de Scofield, um ou dois anos antes.

É uma aula magna. Sempre admirei Scofield e sua famosa contenção, sua internalização quase psicótica de sentimentos e emoções, embora fazendo uma ressalva aqui e outra ali desse método. Neste Macbeth, Scofield atinge o equilíbrio perfeito entre comedimento e força performática. Me ocorre, enquanto escrevo isto, que Scofield parece ter depurado e melhorado o método declamativo de Gielgud. Mantém-se um pouco o antigo tremelique da voz, mas suavizando-o e substituindo-o por uma intensidade trágica.

É uma beleza. Ouçam e deleitem-se. (23/05/2015)




GLORIA SWANSON POR EDWARD STEICHEN


Enquanto Mary Pickford casava com Douglas Fairbanks formando o casal mais poderoso do cinema, e ainda dava um jeito de continuar personificando a "Namoradinha da América" por sua beleza saudável e natural, GLORIA SWANSON atacava por outra frente: era a inatingível. Classuda, elegante, sofisticada. Ícone da moda. Musa de Cecil B. DeMille e de Erich Von Stroheim. A esposa cara, que só um milionário ou um membro da realeza européia poderia bancar. Esse era o folclore, essa era sua estampa.

Na verdade era apenas uma garota baixinha (1 metro e 55) de Chicago, que soube usar como ninguém seus atributos. O que sempre me encantou em Gloria foi sua beleza real, pulsante. Não chegava a ser o vulcão de sensualidade de Theda Bara, mas também estava longe de ser a estátua de gelo que era Garbo. Tinha uma beleza extraordinária, que podia intimidar, mas ao mesmo tempo era descontraída, cativante, gostosa. Seu sorriso era charmoso e atraente. Seu olhar era sexy. Uma combinação maravilhosa. Diga-se de passagem, casou-se, no auge da fama, com um membro da realeza: Henry de La Falaise, Marquês de La Coudraye foi o terceiro de seus seis maridos.

De 1918, quando participou de seu primeiro longa, até 1933, quando foi efetivamente engolida pelo cinema falado, ela fez 44 filmes. Aqui e ali fez participações. Em 1950 teve uma volta espetacular no antológico Sunset Boulevard, de Billy Wilder. Soube quando subir, soube quando parar, lançou suas memórias (Swanson on Swanson) em 1980 e morreu com status de lenda, três anos depois, aos 84 anos.

As fotos deste artigo são de 1924, e foram tiradas pelo luxemburguês Éduard Jean Steichen, ou, como era chamado nos Estados Unidos, para onde foi ainda criança, Edward Jean Steichen (1879/1973), fotógrafo e artista polivalente que eternizou muitas das divas do cinema mudo. As imagens de Gloria sob o véu bordado são uma aula magna de fotografia, muitas vezes copiada e jamais superada.

Gloria Josephine Mae Swanson completaria hoje 116 anos. (27/03/2015)




Foto menos conhecida, de um ensaio de 1927


INTERSTELLAR

Assisti "Interstellar", finalmente.

Me mantive distante de toda a (grande, aparentemente) polêmica cercando esse trabalho de Christopher Nolan. Soube que gerou críticas calorosas, tanto pró quanto contra, mas não li. Apertei "play" desarmado. Prefiro não fazer grandes comentários, porque tudo será spoiler para quem não viu. Mas recomendo que as pessoas procurem ver a mensagem filosófica, emocional e sentimental por trás da ficção científica. Alguns dos conceitos de individualidade, de inevitabilidade e até mesmo de simples amor entre os seres humanos, contidos em falas de  Anne Hathaway, Matt Damon e David Gyasi, são profundíssimos.

No mais, Nolan adora um "brain teaser" como ninguém, e "Interstellar" é um manancial deles. Mas - como bem observou uma crítica que só li agora, depois de ver o filme - em "Inception" ele criou as regras e fez o que quis com elas. Em "Interstellar" ele se manteve "science bound".

Lembrei-me, evidentemente, do 2001 de Kubrick, do "Contact", de Robert Zemekis, até do mais recente "Gravity", de Alfonso Cuarón... enfim, só uma palavra define o filme: ESPETACULAR.

Recomendo. (26/06/2015)

CLOUDS OF SILS MARIA

Mais um filme que descubro sem querer em um site de torrent. Fazia tempo que não assistia nada com a maravilhosa Juliette Binoche, e este "Clouds of Sils Maria", escrito e dirigido por Olivier Assayas me deixou curioso. Assisti e foi uma surpresa muito agradável.

A história, delicada e intimista, e ao mesmo tempo pessoal e profunda, está dividida em três capítulos, e gira em torno da reação de uma grande atriz de teatro e cinema - Maria (Binoche) - diante da morte de seu mentor, a convivência com sua secretária - Valentine (Kristen Stewart) - e a montagem de uma peça que ela já encenara 20 anos antes, só que agora no papel de uma personagem mais velha.

Binoche é perfeita (como sempre) na humanidade vulnerável e comovente que empresta a seu personagem, mesmo nos momentos mais comezinhos. Melhora com o tempo. Continua intensamente apaixonante. Sua química com Kristen Stewart funciona e são deliciosas as cenas de ambas, sobretudo as cômicas. Stewart, aliás, foi largamente elogiada por esse papel. Não exageremos. Ela está ok, simplesmente, e graças a Deus está aos poucos enterrando aquela porcaria de trilogia de vampiros através da qual ela se tornou popular.

Filme contemplativo e reflexivo.

Recomendo muito. (29/06/2015)

ANNA KARENINA (2012)

Terceira colaboração de Keira Knightley com o diretor Joe Wright, depois do magnífico "Atonement" e do lamentavelmente fraco "Pride and Prejudice". Não vou me alongar. Apenas três comentários, antes de declarar enfaticamente que "recomendo":

1 - Há dezenas de versões do livro de Tolstoi por aí. Esta traz o diferencial no roteiro - do sempre competente Tom Stoppard - e uma cenografia originalíssima (Seamus McGarvey) que utiliza um teatro como base de praticamente todos os cenários. Funcionou muito bem.

2 - Sei que houve críticos condenando o que seria o uso excessivo de alegorias visuais em contraponto a um vazio sentimental. Discordo. Wright soube usar a alegoria na medida certa, de forma equilibrada, não transformando o filme em uma bagunça de som e imagens (pecado cometido por Baz Luhrman e, no Brasil, por Luiz Fernando de Carvalho) e criando cenas cheias de sensibilidade e notável beleza.

3 - Considero essa, senão a melhor, uma das melhores performances de Keira Knightley em todos os tempos. E acabo de ver na internet que ela não foi indicada a NADA por esse filme! Essa produção toda, diga-se de passagem, foi vergonhosamente esnobada pelo Oscar (venceu figurino, o que não qualifica nem como prêmio de consolação) mas Keira, pelo menos, merecia uma indicação ao Oscar ou ao Globo de Ouro.

Recomendo. (09/07/2015)

MUCH ADO ABOUT NOTHING (2012)

Não faz nem quinze dias que assisti um "Cymbeline" cinematográfico do qual jamais ouvira falar, e eis que me aparece um "Much Ado About Nothing" que também passou em brancas nuvens. Ao contrário de "Cymbeline", porém, cujo filme (até onde eu sei) é pioneiro, esta é a segunda versão em celulóide para a comédia romântica de Shakespeare sobre Benedik, Beatrice, Claudio e Hero.

E isso foi um problema, pelo menos para mim. Malgrado seus defeitos, sou fã de carteirinha da versão de Kenneth Branagh e não houve um único momento em que não comparei a presente versão, dirigida por Joss Whedon, com o filme de 1993. Whedon modernizou a trama, o que geralmente não atrapalha, mas neste caso prejudica o núcleo de Dogberry; ele funciona no original porque compreende-se perfeitamente como parte do elemento humorístico que um grupo de imbecis represente a lei em Messina do século XV, mas se torna fake em uma cidade qualquer dos Estados Unidos de hoje. Outra inovação que não engoli foi o preto-e-branco. "Much Ado About Nothing" é uma das poucas comédias do Bardo que efetivamente tem graça e além disso há leveza, diversão, romance, cenas de festas, músicas originais. Isso tudo pede cor, brilho, sol, uma fotografia agradável e luminosa. O preto-e-branco botou isso a perder.

Amy Acker: uma maravilhosa Beatrice
O elenco é jovem e composto na maioria de atores da TV norte-americana. São todos razoáveis sem serem ótimos. Reed Diamond foi um Don Pedro aceitável, assim como o Dogberry de Nathan Fillion e o Don John de Sean Maher. Lamentei o corte impiedoso de Antonio, irmão de Leonato, e gostei da Conrade de Riki Lindhome, transformada, de comparsa masculino de John no texto shakespeariano, em sua namorada. O destaque, mesmo, vai integralmente para Amy Acker, que eu sequer conhecia (porque nunca assisti os seriados dos quais ela participa de vez em quando) e que foi uma excelente Beatrice.

É um esforço honesto, mas, sinceramente, quem quiser conhecer essa adorável comédia de Shakespeare, deve assistir a versão de Kenneth Branagh. (08/07/2015)

PROOF

Com apenas dez anos de atraso, assisti "Proof", adaptação da peça de David Auburn - sobre a filha de um gênio da matemática que teve que colocar sua vida em segundo plano para cuidar do pai - roteirizada pelo próprio Auburn e dirigida por John Madden. Curiosamente, o mesmo tempo em que não vejo um trabalho verdadeiramente bom de Gwyneth Paltrow, minha undisputed muse do fim dos anos 90 e início do novo século. Pepper Potts, da franquia do "Homem de Ferro", única coisa que tem feito nos últimos anos , é tão insulsa que chega a me dar urticária.

"Proof", é talvez a melhor coisa que Gwyneth já fez. E se não for a melhor, contém todos os elementos e razões pelos quais ela se tornou musa. Ela acerta em cheio no tom da personagem: triste sem ser chata, problemática sem ser insuportável, profunda sem ser densa, no limiar entre a depressão e o desequilíbrio. Todas as nuances, as mais sutis, de angústia, perturbação, isolamento e frustração de Catherine foram reveladas com maestria por Gwyneth. Não há um pingo de falsidade. É uma performance madura, burilada, própria de uma atriz experiente, e mais do que isso, experimentada no teatro (o que nem creio que seja o caso dela).






















Um trabalho maravilhoso que, pra variar, foi inteiramente ignorado pelo Oscar. Jake Gyllenhaal, Anthony Hopkins e Hope Davis estão todos muito bem, mas Gwyneth é o vértice. Fiz as pazes com ela. Voltou a ser minha musa. Não undisputed, porque Anna Friel é soberana, mas musa, nonetheless.

Foi indicada a um Globo de Ouro. E nem isso ganhou.

Recomendo. (18/07/2015)

CIENTOLOGIA

Tom Cruise, em evento da Cientologia
Qualquer pessoa minimamente inteligente saberá que a cientologia é uma das piores farsas surgidas nos últimos 100 anos. Ela mistura a palhaçada dos mórmons com o radicalismo dos nazistas e a ganância dos políticos, jogando no mesmo liquidificador amplas quantidades de insanidade e toda a burrice fundamental do ser humano.

Baseado no livro de Lawrence Wright e entrevistando dezenas de ex-membros da seita, o documentário "Going Clear: Scientology and the Prison of Belief" vai fundo na investigação e não perdoa ninguém. Destrói com sólida documentação o criador da seita, L. Ron Hubbard e seu herdeiro, David Miscavige. Impossível não assistir com absoluta estupefação os segmentos que falam dos dois cientólogos mais famosos do mundo: John Travolta e Tom Cruise.

O documentário provoca três sentimentos: fascínio, medo e vergonha alheia.

Recomendo. (03/07/2015)

LUIZ GUIMARÃES JUNIOR

Um dos episódios na série de artigos que venho publicando sobre a temporada de Ernesto Rossi no Brasil, em 1871, foi a doação generosa e abnegada do grande ator para a construção de uma escola na antiga "Freguesia de São José", que hoje corresponde ao centro do Rio, onde se localiza a Câmara dos Vereadores.

Elogiando o belo gesto de Rossi, Guimarães Jr. escreveu, entre outras coisas, estas palavras, no Diário do Rio de Janeiro. São lapidares: (27/06/2015)

















VINCENT PRICE ROASTS BETTE DAVIS (LEGENDADO)

Neste lendário "The Dean Martin Roasts" de 1973, Bette Davis é fritada por seu amigo Vincent Price. Haviam trabalhado juntos em "Meu Reino por um Amor", de 1939, quando Bette já era uma estrela e Vincent ainda galgava os degraus da fama, e voltariam a se encontrar somente em 1987, no último filme de Bette, "As Baleias de Agosto".

Price, mais conhecido por seus magníficos filmes de terror, dá um show de humor! Em sua resposta Bette devolve as piadas de Vincent e acaba sobrando para Howard Cosell.

Saudade de todos eles! (05/07/2015)



GEORGE C. SCOTT E JACK LEMMON

Em 1997 William Friedkin dirigiu um remake televisivo do famoso "12 angry men", de Sidney Lumet, realizado em 1957 a partir da peça de Reginald Rose sobre o julgamento de um menor infrator. Nos papéis de Henry Fonda e Lee J. Cobb estavam, respectivamente, Jack Lemmon e George C. Scott. Com todos os defeitos da nova versão (sobretudo algumas escolhas bizarras de elenco, como o inqualificável Tony Danza), a performance de Lemmon e Scott - dois dos melhores atores americanos de todos os tempos - foi elogiadíssima. Scott, que estava esquecido e irritara a indústria cinematográfica eternamente rejeitando seu Oscar por "Patton", encaçapou o Globo de Ouro, o Emmy e foi indicado ao SAG. Era como se Hollywood estivesse tentando se desculpar com o ator através das premiações televisivas.

Ou talvez estivessem se dando conta de que o grande ator estava morrendo. Era preciso correr. Seja para premiá-lo, seja para dar-lhe bons papéis, dos quais tivera pouquíssimos nos últimos quinze anos. Provavelmente por conta disso, da boa relação de amizade entre George e Jack, em 1998, quando surgiu a idéia de se produzir outro remake televisivo, desta vez de "Inherit the Wind", dirigido em 1960 por Stanley Kramer, o diretor Daniel Petrie chamou os dois. A peça de Jerome Lawrence e Robert Edwin Lee se baseia em um processo real ocorrido no início do século passado, e George reprisou o papel de Frederic March, enquanto Jack interpretou o personagem criado por Spencer Tracy.

Em 1996 Scott montou "Inherit the Wind" no papel de
Drummond, que no filme de 1998 foi para Jack Lemmon. No
teatro, o papel de Brady foi para o não menos maravilhoso
Charles Durning
É uma delícia de filme. Não só porque se trata de uma produção bonita e bem cuidada do canal Showtime, mas porque é um genuíno prazer assistir atores maravilhosos como George e Jack contracenando. Em entrevista da época em que o filme foi ao ar, em maio de 99, Jack contou que não se continha de admiração ao ver George atuando. Assistia-o em cena como se estivesse na platéia.

George morreu quatro meses depois. "Inherit the Wind" foi seu canto do cisne.

Procurei esse filme durante anos na Internet e nunca encontrei. Outro dia tentei novamente e o encontrei no Youtube! Que sorte extraordinária. E parece que o upload foi de um brasileiro, porque ele possui legendas opcionais.

Recomendo a todos, especialmente àqueles que apreciam e sentem saudade do impecável trabalho de George C. Scott e Jack Lemmon. (07/06/2015)

George e Jack em "Inherit the Wind"
https://www.youtube.com/watch?v=NYCfo4hVolQ

83 ANOS DE PETER O'TOOLE


Programa quádruplo (começado há alguns dias) para comemorar os 83 anos que o maravilhoso Peter O'Toole completaria hoje.

O primeiro filme que assisti era uma daquelas lacunas absolutamente imperdoáveis na reputação de qualquer cinéfilo que se preze: a obra-prima de David Lean, "Lawrence of Arabia". Por razões que a própria razão desconhece, eu ainda não havia parado para apreciar corretamente as quase 4 horas do filme de 1962 que catapultou O'Toole para o status de estrela hollywoodiana de primeira grandeza. Assisti finalmente. Não há espaço ou conveniência para comentar aqui algo que tem que ser visto e estudado minuciosamente. Mas é magnífico. Tudo é perfeito. Desde a escolha do personagem, o excêntrico e extraordinário Thomas Lawrence (figura singular que mereceria dois ou três filmes além desse), a performance de O'Toole, até o trabalho impecável de Lean, o elenco inigualável que traz Omar Sharif, Anthony Quinn, Alec Guiness, Anthony Quayle e José Ferrer, a trilha sonora e tudo mais. Certamente um dos melhores filmes de todos os tempos.

Na seqüência assisti outro filme que me provocava curiosidade mas que nunca tivera o ensejo de ver: "Lord Jim", de 1965, direção de Richard Brooks, baseado no livro de Joseph Conrad sobre o marinheiro James "Jim" Burke e sua luta constante para manter-se em uma linha reta de correção moral. Aquilo que Lawrence tem de grandioso, "Lord Jim" tem de sutil. É uma história triste, mas mostrada de forma bela e delicada. As locações no sul da Ásia são fantásticas e é competentíssimo o elenco que inclui titãs como James Mason, Curd Jürgens, Eli Wallach, Paul Lukas e a linda Daliah Lavi. Recomendo. E assim como todos os filmes desta lista, recomendo para aqueles que tem saudade de filmes que podiam até ter ação, mas não se furtavam de contar uma história.

Os dois últimos eram inteiramente desconhecidos para mim. E foram gratíssimas surpresas. "The Night of the Generals", de 1967, baseado no romance de Hans Hellmut Kirst, foi o penúltimo filme do diretor ucraniano Anatole Litvak.

A história é engenhosíssima e mistura uma investigação por assassinatos sexuais com a Operação Valquíria, uma das últimas (e mal-sucedidas) conspirações alemãs para eliminar Hitler. O'Toole é um dos três generais alemães na lista de suspeitos pelos assassinatos. Ele não poderia ser mais perfeito para o papel. Era alto, esguio, olhos azuis e embora tivesse o cabelo castanho, passava tranqüilamente por loiro. Hitler teria um orgasmo se pudesse contemplar o "arianismo" de O'Toole. O filme marca o primeiro reencontro da dupla que protagonizou o Lawrence da Arábia, O'Toole e Omar Sharif, e ainda traz os grandes Donald Pleasence, Tom Courtenay, Phillipe Noiret (do afamado "Cinema Paradiso"), e Christopher Plummer em coadjuvância de luxo.

Por fim, "Murphy's War", de 1971, direção de Peter Yates, sobre um soldado irlandês que vê seu navio ser afundado e toda a tripulação aniquilada por um submarino alemão no fim da segunda guerra, e seu desejo patológico de vingança. Totalmente sem querer acabei assistindo mais um trabalho de O'Toole com Noiret, sendo que em "Murphy's War" ele também contracena com sua então esposa, a atriz Sian Phillips. É o menos brilhante dos quatro filmes, o sotaque irlandês de Murphy vem e vai, mas tem seqüências de tirar o fôlego e aquela tensão que só Yates sabia criar.



(02/08/2015)
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