quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Robin Williams, em sua última entrevista a Johnny Carson


Robin Williams e Johnny Carson, 21/05/1992

Meus caros,
aos poucos vou digerindo a perda desse artista maravilhoso, que tanto marcou minha vida. O que trago hoje é uma das mais doces memórias que tenho de Robin Williams.

Em 1992 o apresentador Johnny Carson se aposentou após 30 anos de uma carreira gloriosa à frente do mais importante e prestigioso programa de entrevistas da TV americana. Eu estive nos Estados Unidos no início daquele ano e assisti o começo de sua despedida. Gravei muitas das entrevistas finais de artistas como Chevy Chase, Michael J. Fox, Sean Connery e tantos outros. Em maio eu já estava de volta ao Brasil, minha mãe ficou e se encarregou de gravar a derradeira semana de Carson.

No último programa com entrevistas, efetivamente - o programa final foi de melhores momentos dos 30 anos - Carson fez questão de receber duas pessoas: Robin Williams e Bette Middler.


"Sit on down and we'll give you a piña colonic"
Robin, aos 40 anos, estava no ápice de sua carreira. Embora divulgando um de seus raros fracassos (o filme "Toys", de Barry Levinson), a máquina estava em 220, a engrenagem fervia, azeitada, a metralhadora atirava sem parar e ele foi aquela usina atômica de improviso, de inteligência e de humor.

Os assuntos em voga eram o quebra-quebra por Los Angeles pela absolvição dos policiais que haviam espancado Rodney King; a eleição presidencial norte-americana, que ainda trazia pré-candidatos como Paul Tsongas, Jerry Brown e o impagável Ross Perot, além de Bill Clinton, que na ocasião era considerado carta fora do baralho; e as maluquices habituais de Williams. Lágrimas de riso com sua imitação de George Bush (pai) a partir de John Wayne, a hilária rendição de Reagan em seu rancho, o Rain Man Dan Quayle, o Nixon por trás de Perot, o talk-show "In your rear" que entrevistaria Madre Teresa e Ruta Lee, e tudo que pudesse ser processado e transformado em palhaçada no seu poderoso triturador do cotidiano, naquele início de década de 90.

Assisti essa fita de video com a última semana de Carson - sobretudo os encontros com Mel Brooks e Richard Harris, além desse, de Robin - até decorá-la. Rever a entrevista de Robin no Youtube, recentemente, depois de tantos anos, me emocionou muito. Estou começando a assimilar essa despedida tão horrivelmente prematura.

Que saudade de Carson, de Robin, do bom Ed Macmahon. Que bom ter estado lá naquele momento. Que bom ter apreciado o talento desse ser humano inigualável que foi Robin Willliams.

Bernardo

 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"À Saudosa Memória de Dirce", de Gabriel Quadros


Dirce e sua mãe, Leonor
Há pouco mais de um mês morreu Tutu, a filha de Jânio. Conhecida a vida inteira por “Tutu” — apelido que ganhou do pai ainda na infância — as pessoas acabaram não atinando para a significação de seu verdadeiro nome, que era Dirce Maria do Valle Quadros. Batizando a filha com o nome “Dirce”, Jânio homenageava sua irmã, morta aos 16 anos. O “Maria” foi acrescentado por Eloá, mas Tutu não gostava desse segundo nome, e tampouco fazia segredo disso.

Dirce da Silva Quadros nasceu em 22 de maio de 1918, em Curitiba, para onde seus pais se mudaram depois de um período de quatro anos no Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul). Jânio e sua irmã viveram toda a infância e pré-adolescência no Paraná. Estudaram em diversos educandários, por conta das constantes mudanças do pai nos anos 20, e com o golpe de 1930, vieram para São Paulo. Gabriel Quadros — pai de Jânio e Dirce — era filiado ao Partido Republicano Paranaense e membro da equipe do governador Affonso Alves de Camargo. Com a ascensão de Getúlio, Gabriel preferiu sair do Paraná e tentar a sorte no Estado onde o Partido Republicano era mais forte.

Jânio e Dirce, circa 1933
Dirce infelizmente nasceu com um problema cardíaco e sua saúde requeria atenção redobrada. Os dois irmãos eram unidos, brincavam juntos, se divertiam juntos e ela levava uma vida tão normal quanto possível, mas a fragilidade de seu organismo não conseguiu impedir que ela contraísse a tuberculose, a moléstia mais temida e disseminada da época. E também a mais rápida. Gabriel, que era médico, fez tudo que era humanamente possível para salvar a filha, inclusive interná-la em Campos do Jordão. Não adiantou. Sem a penicilina, e demais remédios surgidos nos anos seguintes, não havia como curar doença tão insidiosa e cruel. Dirce morreu em 24 de novembro de 1934, aos 16 anos. Jânio ficou devastado. Ainda mais devastado ficou Gabriel. A morte da jovem foi um divisor de águas na vida do médico e em sua relação com a esposa e com o filho. Em depoimento longo e exclusivo, Tutu falou com clareza sobre a morte da tia, que ela não chegou a conhecer, mas cujo nome herdou:

A mãe favorecia a ele e o pai favorecia a ela. Quando ela morreu, enquanto o Jânio e minha avó Leonor ficaram muito mais unidos, ele começou a ter problemas sérios com o pai. Depois disso, eles nunca mais se entenderam. Tinha amor entre eles, mas não havia mais nenhum entendimento. E o pai sofreu muito com a morte da filha. Muito. Tinha fotografias da tia Dircinha por todo lado, acendia velas, e eu acho que de uma certa forma ele nunca se recuperou da perda da filha. Que é o que costuma acontecer aos homens que perdem filhas. Meu avô Gabriel perdeu muito do encanto pela vida, o gênio dele se alterou muito, a tolerância, a paciência, a irritabilidade aumentou. (JÂNIO, pgs 104,105)

Gabriel, na década de 50
Gabriel era jornalista diletante desde a faculdade, no fim dos anos 10. Em quase todas as cidades onde viveu, tratou logo de se familiarizar e se infiltrar na imprensa local. Em São Paulo não foi diferente, e em 1933 vamos encontrá-lo como colaborador fixo de um pequeno diário chamado “Correio de S. Paulo”, de inspiração perrepista. Como sempre ocorreu nessa sua área de atuação, ele escrevia desde a crônica social até o comentário sobre política externa.

Em 26 de maio de 1936, em que se completava um ano e meio da morte de Dirce — e quatro dias depois do que seria seu aniversário de 18 anos — Gabriel escreveu sobre dois livros recém-lançados em sua coluna semanal (um sobre obstetrícia e outro sobre religião) e aproveitou parte da coluna social para publicar uma pequena homenagem póstuma à sua filha. Gabriel não escrevia bem. Era prolixo e rebuscado. Colecionava palavras difíceis e declinações oblíquas. Defeitos, aliás, que transmitiu ao filho, e que este cuidadosamente desbastou, corrigiu, depurou, ampliou e posteriormente transformou em arte.

Mas seu artigo sobre a filha é inspirado e tocante, porque traz o selo legítimo da tristeza e da saudade.
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À SAUDOSA MEMÓRIA DE DIRCE

Faz hoje precisamente um ano e meio que o gélido sudário da morte te envolve em suas diáfanas vestes e te roubou ao carinho dos teus pais!

A nossa casa é agora um sepulcro lacrado pelo sinete da saudade.

O teu róseo quarto, querida, continua vazio, chora em cada canto uma saudade, geme em cada saudade uma agonia.

As flores que plantaste e regaste com tuas mãozinhas de fada, desfolharam pétala por pétala e rolando n'um queixume triste se foram ao léu, nas asas do vento...

Tua mãe é a mesma — essa mater dolorosa que, n’uma caudal de pranto, procura no céu, nas noites plenilúnias, ver luzir o teu rosto na mais bela estrela coruscante.

Teu irmão, no vácuo do lar antes em festa, sente a ausência da companheira de infância.

O teu velho pai é esse rosto contrafeito, que ri em espasmos de dor, é como a harpa de cordas partidas que dedilha a saudade sem harmonia de acordes.

Desconheço alguém mais invejoso que a morte: ela quer só para si e nos rouba tudo o que é puro e bom.

Minha Dirce querida!

Teu pai viverá ainda rindo, essa louca comédia da vida, sob os grilhões da saudade até que a justiça de Deus o chame aos braços teus na eternidade infinita.

Até lá, continuarei com tua mãe a procurar no céu os teus lindos olhos no luzir das estrelas...

GABRIEL QUADROS
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Bibliografia

  • SCHMIDT, Bernardo. Jânio 
    — Vida e Morte do Homem da Renúncia. São Paulo, O Patativa, 2013.
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Jânio - Vida e Morte do Homem da Renúncia
Vol I: "Um Moço Bem Velhinho"
Bernardo Schmidt
Editora O Patativa
350 pgs ilustradas
R$ 30,00 (Frete incluso para todo o Brasil)

Compre através do e-mail editora.opatativa@gmail.com
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Ver também:

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domingo, 5 de outubro de 2014

Hora da Definição














Meus votos, no domingo, dia 5 de outubro, serão para AÉCIO NEVES, GERALDO ALCKMIN e JOSÉ SERRA.

1 - Aécio foi deputado federal por quatro mandatos, governador de Minas durante oito anos e é atualmente senador. Tem a política no sangue (é neto de Tancredo) e é de longe o melhor e mais experiente candidato.

Dilma é o zero à esquerda que já conhecemos bem. Nunca exerceu um único cargo eletivo. Brizolista, ocupou secretarias municipais e estaduais no Rio Grande do Sul sem deixar qualquer lembrança; no ministério das Minas e Energia de Lula ficou conhecida como "a ministra do apagão"; na Casa Civil entrou para acobertar as bandidagens de José Dirceu, e deixou como sucessora uma laranja chamada Erenice Guerra, que também acabou defenestrada por corrupção. Ignorante e despreparada, Dilma tem, como grande marca de sua presidência, as declarações cretinas, a volta da inflação e a corrupção desenfreada nos ministérios e autarquias. Lamento por aqueles que ainda consideram votar numa criatura tão equivocada.

Marina Silva foi vereadora em Rio Branco, deputada estadual pelo Acre e ministra do Meio Ambiente de Lula. Atualmente é senadora. Ela é infinitamente melhor, mais preparada, mais culta, mais inteligente, de melhor caráter e melhor temperamento do que Dilma (ao contrário do que diz o latido dos petralhas, sempre sectários e fanáticos). Se tivesse saído do PT quando estourou o escândalo do mensalão, e não três anos depois, seria minha primeira opção. Como só saiu do PT porque o partido aparentemente não a cogitou para a disputa, é minha segunda opção.

2 - Geraldo Alckmin foi vereador e prefeito em Pindamonhangaba, deputado estadual, deputado federal constituinte, vice-governador por seis anos, governador interino por dois, e governador efetivo por dois mandatos (é candidato a um terceiro mandato). Como disse em outro post, não obstante seus defeitos, e ele tem vários, é o melhor entre os candidatos. É covardia compará-lo aos concorrentes.

Padilha é uma nulidade na mesma linha de Dilma e Haddad, candidatos que Lula tira de seu bolso e joga, como um peixe, para ser engolido pelas focas amestradas que representam a militância do PT e uma triste parcela do eleitorado. Padilha foi ministro da Saúde de Dilma e é conhecido unicamente pelo tenebroso projeto que despejou milhares de médicos cubanos no Brasil. Graças a Deus que São Paulo Estado não é São Paulo Capital, e a votação de Padilha será tão humilhante quanto sua passagem pelo ministério da Saúde.

Paulo Skaf é um empresário de talento, presidiu a Fiesp e botou na cabeça que quer ser governador. Deveria ter aprendido com Antônio Ermírio que em rio de piranha, tubarão é almoço. Péssimo político, foi candidato em 2010 pelo Partido Socialista, o que chega a ser uma piada, e agora veio queimar seu filme de vez no PMDB. Deve ficar na Fiesp, que é seu lugar.

3 - José Serra foi secretário estadual, deputado federal constituinte, ministro do Planejamento e da Saúde durante o governo FHC, prefeito, senador e governador de São Paulo. É um excelente administrador e tem como calcanhar de Aquiles o fato de não ter uma única centelha de carisma. Mas enquanto esta eleição for para o senado e não para Mister Congeniality, meu voto é do Serra.

Eduardo Suplicy é um excelente figura. Gosto dele, conheço-o pessoalmente, é pessoa acessível e gentil. Mas há limite para tudo, e o fato de Suplicy teimar em permanecer no PT, mesmo sendo públicas, notórias e escancaradas as provas de que se trata de um partido corrupto, de cima a baixo e de baixo para cima, não mostra mais lealdade, e sim, cumplicidade, conivência. Como dizia Ulysses Guimarães, não basta não roubar; é preciso também NÃO DEIXAR ROUBAR. E ficando no PT, Suplicy pode até não corromper, mas está fazendo vista grossa para a corrupção de seus colegas. É uma pena.
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Estes são os meus candidatos para esta eleição: Aécio, Geraldo e Serra.

O PT teve sua chance. E a jogou no lixo, junto à sua reputação e à nossa, aqui e no exterior. Chega.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Último debate presidencial



Meus caros,
Este último debate foi tudo que os outros debates deveriam ter sido. Sendo a última oportunidade do mano a mano, Dilma, Aécio e Marina pararam de se estapear com luvas de veludo e foram pro quebra pau de uma vez; Eduardo Jorge nos divertiu como sempre, aquele pastor Everaldo superou-se em sua inutilidade e a dupla Debi e Lóide  Luciana Genro e Levy Fidélix  fizeram suas macaquices habituais. Só que pela primeira vez senti que o vencedor foi Aécio. Vamos lá:

1 - Aécio foi exemplar. Demonstrou, descontraído e tranqüilo, estar anos luz à frente de seus concorrentes. Transbordou segurança, preparo, e até bom humor para responder as acusações de Marina ou a blablação intolerável de Luciana Genro. Homenageou FHC de forma elegante e justa  coisa que aquele tonto do Serra nunca fez, prejudicando-se profundamente por conta disso  e metralhou Dilma do início ao fim, conciso, objetivo e contundente. Lamento que não tenha sido tão incisivo e cortante desde o primeiro debate. Teria ultrapassado Marina tempos atrás.

Seu único erro, por sinal, foi fustigar Marina. Deveria tê-la tratado com urbanidade e simpatia, compreendendo que o mal comum é o PT, mas seus marqueteiros dormiram no ponto. A esta altura, o acordo para o segundo turno, seja qual for o resultado, já deveria estar pronto e engatilhado.

2 - Dilma já não é boa em debates, mas hoje estava particularmente ruim. Suas limitações, a confusão mental e a conseqüente gagueira foram cruéis. Recebeu inerme as pauladas de Aécio e parece não ter encontrado forças para repisar, pela undécima vez, as mesmas respostas idiotas com que responde a tudo, culpando o governo anterior, desde a campanha de 2010. O ponto alto de sua baixeza foi dizer que criou mecanismos de combate à corrupção. Pelo contrário. Seu partido criou mecanismos de incentivo à corrupção e da celebração vexaminosa e repulsiva de seus bandidos condenados.

É impressionante. Só no Brasil, mesmo, tem gente tão imbecil que consegue votar numa pessoa que está moralmente liquidada. Os eleitores de Dilma são, em sua obstinação burra e fanática, os mesmos que pretendiam eleger Maluf mais uma vez.

3 - Marina, assim como Dilma, estava cansada, esgotada e rouca. E deixou o melhor para o fim. Eu, desde a homologação de sua candidatura, vinha reclamando a necessidade dela parar de lamber PT e PSDB, e assumir de uma vez uma postura de repúdio total ao atual governo. Fez isso hoje, último dia da propaganda eleitoral e último debate. Alfinetou Dilma por não ter jamais exercido um cargo eletivo antes de se tornar presidente. Como diz o inglês, "too little, too late". Marina deveria ser a terceira via e o máximo que conseguiu foi ser uma espécie de versão dietética da Dilma.

4 - Luciana Genro tem 43 anos, aparência de 53 e mentalidade de 16. Seus ataques histéricos, onde atira para todos os lados, e sua defesa de movimentos corroídos pela corrupção, como o MST, são tão cínicos, tão oportunistas  sobretudo considerando que ela é filha de um proeminente político petista e nunca soube o que é pobreza  que ela se transformou em tudo aquilo que mais abomina: virou um Jair Bolsonaro de saias. Ele é militarista, agride quem não concorda com ele e vive em pé de guerra com os gays; ela prega um comunismo falido desde os anos 50, agride tudo e todos e sua única agenda é a dos gays. São igualmente reacionários. Que bom que Aécio lhe disse, em alto e bom som, que ela não está preparada para ser candidata à presidência.

E graças a Deus que com o fim da campanha não teremos mais que ouvir sua logorréia interminável de protesto, de revolta, de rebeldia sem causa, enfim, de pentelhice.

Vamos à eleição. E oxalá Aécio vá para os segundo turno.
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