terça-feira, 13 de abril de 2010

Jânio Quadros, Cid Franco e a Vila Maria

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Meus caros, em 2008 escrevi dois artigos sobre a relação de Jânio Quadros com a Vila Maria para uma modesta publicação local. Tenho procurado não colocar artigos sobre Jânio neste blog, porque estou na fase de conclusão de sua biografia - trabalho que me acompanha há dez anos - e quero evitar spoilers. Entretanto, como o livro todo virá transbordando de fatos inéditos, não me furto de dar-lhes este aperitivo.
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Vila Maria deve ser havido
como substantivo comum, não próprio.
Estamos todos cercados de Vilas Maria. Todos.
(Jânio, 1976)


Há políticos cuja identificação com sua cidade ou seu Estado é notável. Não se fala de Rodrigues Alves sem pensar em Guaratinguetá, de Getúlio sem pensar em São Borja ou em Juscelino sem pensar em Diamantina. Da mesma forma, é difícil dissociar líderes como José Américo, da Paraíba, Vitorino Freire, do Maranhão e João Café Filho, do Rio Grande do Norte.

Adhemar de Barros, por exemplo, era tido como “o leão de São Manoel”, no interior de São Paulo, embora fosse originalmente de Piracicaba, e Washington Luís era o “paulista de Macaé”, por ter nascido naquela cidade do interior fluminense e feito sua notável carreira política em solo bandeirante. Poucos são os políticos de prestígio nacional, entretanto, que concentraram, e pelos anos souberam manter, a popularidade que granjearam inicialmente em um único bairro.

Jânio Quadros é o único que se enquadra em todas essas categorias, e ao mesmo tempo não se enquadra em nenhuma. Nasceu em Campo Grande, antigo Mato Grosso e atual Mato Grosso do Sul, com 1 ano de idade já estava em Curitiba, no Paraná, e aos 13 mudou-se com a família para a Capital de São Paulo. Nos 17 anos que separam a chegada de Jânio à Paulicéia, do pleito em que se candidatou a vereador, em 9 de novembro de 1947, viveu no Cambuci, na Aclimação, na Saúde e na Liberdade. Não representava, portanto, qualquer bairro citadino. Sua candidatura era um tiro no escuro e ele, quando muito, participava da eleição como professor de português e de geografia de dois educandários, o Dante, nos Jardins, e o Vera Cruz, no Brás.

Durante a campanha, Jânio foi atrás de seus velhos colegas de ginásio e faculdade, em busca de votos. Na zona norte, teve o apoio inesperado de José Lourenço, seu amigo desde o Arquidiocesano. O rapaz voltara no ano anterior do Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Medicina, e agora estava instalado na longínqua Vila Maria. O bairro nascera em 17 de janeiro de 1917 – oito dias mais velho que Jânio – do consórcio entre Eduardo, Guilherme e Paulo Cotching, Rafael Sampaio e Alberto Byington, sócios na Companhia Paulista de Terrenos S.A. Os cinco haviam incorporado uma propriedade de mil quilômetros às margens do rio Tietê, chegando a Guarulhos, a fim de dividi-la em lotes e vendê-los. O antigo Sítio Bela Vista, de Manoel Dias da Silva, se transformou, então, em bairro. Seu nome, sugerido por Eduardo Cotching: Vila Maria.

Jânio e a Vila Maria contavam 30 anos em 1947, só que enquanto o jovem mato-grossense começava com garra e energia uma carreira vitoriosa na política, o bairro permanecia esquecido pelas sucessivas administrações municipais e era lembrado como um “pântano”, ou como um “brejo”, pelo estado em que ficava depois de qualquer chuva.

O candidato visitou o bairro e fez contatos. Eleito vereador, não esqueceu a Vila Maria. Fez côro com vereadores como Décio Grisi, Cid Franco, Derville Allegretti e João Fairbanks, clamando por melhorias no local e em outubro de 48 veio sua primeira Indicação sobre o assunto, que assinou em conjunto com o vereador Ângelo Bôrtolo: “Indicamos ao Sr. Prefeito verificar as condições infames das ruas de Vila Maria e, em particular, Rua Catumbí, Avenida Cotching e perpendiculares. Tais ruas, visitadas por mim e por ilustre colega desta Câmara, representam viva ameaça à saúde dos moradores, quer pela água empoçada no leito e nos passeios, quer pelas fossas que extravasam. Sala das Sessões, 11 de outubro de 1948. Jânio Quadros e Ângelo Bôrtolo”.

Levou três fotos do local para ilustrar a Indicação, e a descrição do que viu é apocalíptica: “Eis aqui em minhas mãos, Sr. Presidente e meus colegas, três fotografias daquilo que se convencionou chamar ‘rua’, naquele bairro. Uma delas mostra-nos um valo repleto de água pútrida, infecta, pestilenta, a correr ao longo da artéria, de um extremo a outro, enquanto o leito, o passeio, é, a um simples lance d’olhos, visivelmente intransitável. A segunda fotografia foi tomada na Avenida Cotching, que como Vv. Excias. não ignoram, é a principal da Vila Maria. Por toda parte, também ao longo dessa avenida, o mesmo e sistemático empoçamento se contata, tornando quase irrespirável o ambiente, maximé quando se tem em consideração as fossas, e quase todas, de há muito extravasam, exalando fétido, que faz da vida quotidiana daquela gente um verdadeiro martírio, um sacrifício sem fim. (...) O excremento que se acumula às ruas, forma uma espessa camada em todos os pontos nos quais se encontram fossas, e essas fossas situam-se a pequena distância umas das outras, de sorte que a artéria, por igual, ao correr da linha do bonde, é uma verdadeira esterqueira, não podendo, quer eu quer meu colega, compreender como isso seria possível em rua oficial, em avenida; e mais, na rua mais importante de todo um bairro e a única pavimentada”.

O discurso guardava uma alfinetada no argumento governista de que todos os bairros experimentavam as mesmas deficiências: “Vejam Vv. Excias. se cabem, então, observações que ocasionalmente ouço, segundo as quais, esses problemas são comuns a toda a cidade. Não, positivamente não! Alguns distritos possuem peculiaridades, tais que estão reclamando medidas que lhes sejam próprias, exclusivas, urgentes, inadiáveis, sob pena de grave ameaça à saúde coletiva. Os que se acham em Vila Maria, por infelicidade, encontram-se nessa posição: recebem já dos Poderes Públicos amostras de zelo, alguma atenção, alguns cuidados ou uma epidemia, ou uma enfermidade contagiosa propaga-se logo, porque a sua iminência é patente mesmo a um leigo”.

A referência seguinte ao “lamaçal tremendo” reabilitava o apelido de “brejo”, dado ao bairro na época: “A terceira fotografia mostra a Rua Catumbí pavimentada apenas de um dos lados. É tal o critério econômico que preside às atividades do Executivo que, um Prefeito qualquer cujo nome ignoro, mandou asfaltá-la pela metade no sentido longitudinal, deixando a outra porção do leito transformada em um lamaçal tremendo, como se os habitantes que nela residem, para ela têm voltadas suas casas, não possuíssem os mesmos direitos, não possuíssem os reclamos e não tivessem razão para exigir dos governantes a atenção que os vizinhos receberam fronteiriços mereceram”.

A partir daí, o político e o bairro nunca mais se separaram. Eleito deputado estadual 3 anos depois, com exatamente dez vezes o número de votos que obteve para a vereança, Jânio e a Vila Maria tornaram-se indissociáveis. Deputado estadual, prefeito, governador, presidente e prefeito novamente, Jânio bateu-se incansavelmente pelo progresso do bairro e pela melhoria nas condições gerais de todos os moradores da região. Diria, certa ocasião, durante o ostracismo que viveu depois do golpe de 64, que se quisesse voltar à política, não precisaria nem sair de casa. Bastava avisar, na Vila Maria, que era candidato, e já estaria eleito. Mais sério, observaria que a Vila Maria não era mais apenas um bairro, mas um indicativo das necessidades populares e um exemplo do povo obreiro e esforçado que seguia à margem das realizações governamentais: “Tenho a impressão de que Vilas Maria andam crescendo, ao invés de diminuir, crescendo nas necessidades fundamentais, básicas, que têm crescido no seio do povo”.

Jânio, entretanto, enquanto esteve no governo jamais esqueceu-se da Vila Maria. E a recíproca foi sempre verdadeira. O bairro foi e continua sendo um reduto janista, no sentido mais puro e verdadeiro do termo. Não um curral de politicagem e benesses, mas um agrupamento demográfico de cidadãos que foram prestigiados por um político, e devolveram esse prestígio em forma de votos. E hoje, de saudade.
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Vila Maria é um inferno para inúmeros dos seus moradores, privados de calçamento,
rede de esgotos, água pura.
(Cid Franco, agosto de 1948)

Muito já se falou sobre Jânio Quadros e a Vila Maria. De fato, nunca houve um homem público tão ligado, seja por laços políticos ou afetivos, ao operoso bairro da Zona Norte. Tais ligações datam de 1947, quando, em campanha para a vereança, Jânio foi levado ao bairro por seu ex-colega de ginásio e médico recém-formado, José Lourenço. Eleito, a aproximação de Jânio com a região foi tímida e somente no décimo mês de mandato surgiu sua primeira Indicação sobre a Vila Maria, que vinha acompanhada de três fotos tiradas no bairro. Essa Indicação tinha não apenas a sua gênese, mas sua completa inspiração numa Indicação anterior, discutida nos dias 11 e 18 de agosto de 1948. O autor dessa Indicação era um vereador do Partido Socialista Brasileiro. Seu nome: Cid Franco.
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Nascido em Petrópolis em 1904, Cid se formou advogado pelo Largo São Francisco em 1928. Pouco advogou, entretanto, dedicando-se de corpo e alma à carreira radiofônica, que abraçou a partir de 1933. Misturando programas literários e culturais com outros de fundo religioso e assistencial, foi despindo-se do materialismo marxista, que professou intensamente na juventude, para abraçar uma forma de socialismo espiritualizado. Segundo ele mesmo dizia, na Câmara dos Vereadores, “sou hoje um espiritualista convicto que luta pelo socialismo, luta contra a ganância capitalista, por meios legais, parlamentares, democráticos. Ideologicamente e praticamente não aceito nenhuma espécie de ditadura. Oponho-me à ditadura proletária dos russos, que surgiu como provisória e se tornou definitiva. Prezando acima de tudo a liberdade de pensamento e palavra, considero um erro e um perigo, a política de perseguições e prisões por idéias. As idéias combatem-se com idéias e não com a força, não com a violência”.

Foi esse interesse fundamental pelo ser humano que o fez voltar os olhos para a pobre e pacata Vila Maria, que na época encontrava-se inteiramente esquecida pelos poderes públicos. A Zona Norte tinha representantes de grande valor, como Valério Giulli e Cantídio Sampaio, mas ambos concentravam seus esforços no bairro de Santana, então a Vila Maria seguia sem o seu patrono na Câmara. Indicações e Requerimentos sobre aquela vizinhança apareciam de vez em quando, alguns pedindo a troca de lâmpadas, outros solicitando a construção de um cemitério, mas ninguém justificara tais pedidos com um discurso. Cid foi o primeiro.


No dia 11 de agosto de 1948, munido de três fotos, ele subiu à tribuna e ouviu o secretário Anis Aidar ler sua Indicação: “Indico ao Sr. Prefeito a necessidade de urgentes melhoramentos no bairro de Vila Maria, onde existem ruas sem as condições mais elementares de higiene e conforto para os moradores, como por exemplo, ruas Curuçá, Itapurá, Ely e outras”. Exibindo uma foto da rua Curuçá, o socialista comentou:

- Vejam o grupo de crianças. Brincam por ali à beira da sarjeta permanentemente cheia de água podre. Dia e noite aquela água empesteando o ambiente. A lama da rua é também visível na fotografia. Como essa, há outras ruas no bairro proletário. Vila Maria é um inferno para inúmeros dos seus moradores, privados de calçamento, rede de esgotos, água pura. Muitos mandam buscar baldes de água longe de casa, com receio da fossa que está perto do poço.

Quando o socialista mostrou a fotografia da Rua Ely, Jânio Quadros aparteou: “É um pântano, não é uma rua”. A Vila Maria, que como se viu, já era conhecida de Jânio, ainda não figurava com destaque em sua lista de bairros a serem visitados e varejados com urgência. O pronunciamento de Cid fez com que isso mudasse. Além disso, foi devidamente anotada pelo futuro presidente a extrema conveniência da exibição de fotos na apresentação dos Requerimentos ou Indicações, pois provocavam a curiosidade no plenário e prendiam a atenção dos vereadores, durante o discurso.

No fim do seu discurso, Cid prometeu levar à Câmara um pedaço de pano que era usado como filtro em uma das residências do bairro. Esperava apenas receber o resultado do exame que encomendara ao Instituto Adolfo Lutz, sobre as substâncias contidas no farrapo. Quando o documento lhe foi entregue, uma semana depois, no dia 18, ele voltou à tribuna.


- Na recente visita que fiz ao bairro de Vila Maria, como narrei em sessão de 11 deste mês, realizei um trabalho de pesquisa domiciliar. Na residência da Rua Itapurá, nº 24, pedi aos moradores que me cedessem, para eu exibir à Câmara como documento, o pano que estava amarrado à torneira do tanque.

Jânio, fundamente impressionado com o discurso anterior de Cid, aproximou-se da tribuna e ouviu com a máxima atenção. Raios e trovões saíram da boca do socialista, que acusava a situação calamitosa do fornecimento de água, em Vila Maria:

- Vejam bem: é isto. – disse Cid, mostrando o pano imundo – Este pedaço de pano foi atado à torneira como coador, como filtro improvisado. Em pouco tempo a sujeira da água o deixou desta cor. Água de poço. Os moradores não a bebem, não podem bebê-la. Mandam buscar baldes de água num posto de gasolina. Este pedaço de pano devia ser visto e cheirado pelos capitalistas gananciosos, que pouco se preocupam com a situação da gente pobre. Devia ser visto e cheirado pelos homens e mulheres para quem a vida é um mar de champanha! Devia ser visto e cheirado pelos velhos e novos ricos da política, homens para quem a população humilde foi e continua sendo apenas um trampolim eleitoral!

- Chupadas um pouquinho, também, se V. Excia. me permite. – brincou Jânio, acompanhando o discurso e tomando nota, mentalmente, do extraordinário efeito de se trazer um objeto visível e palpável para a Câmara, na justificação de um requerimento. Era mais um, de muitos expedientes utilizados ingenuamente por Cid, que Jânio incorporaria a seu próprio repertório parlamentar, transformando-os em arte tempos depois.

Sem os dois discursos de Cid Franco, Jânio provavelmente não haveria atentado para a Vila Maria com a rapidez que o fez. A semente plantada involuntariamente pelo socialista começou a dar frutos exatamente dois meses depois, em 11 de outubro. Jânio apresentou junto ao republicano Ângelo Bôrtolo sua primeira Indicação sobre a Vila Maria. E qual a maneira usada por Jânio para ilustrar a proposição? Três fotos. Não se pode dizer, entretanto, que tenha sido plágio, pois suas primeiras palavras foram para lembrar a Indicação do socialista: “Vou ser breve, também, sobretudo depois da Indicação oferecida a este plenário pelo nobre colega Cid Franco, que, de alguma forma, consubstancia a que tenho a honra de produzir”.

No dia 27 de dezembro, mais um requerimento, desta vez perguntando qual a “razão do desaparecimento das duas bancas de peixes do mercado distrital de Vila Maria, substituídas por bancas de carne”. Também perguntava sobre “a ausência absoluta de fiscalização de higiene e de preços”, bem como “a razão do estado de imundície do recinto, que jamais foi lavado em 14 meses e, em particular, das instalações sanitárias, cujas bacias estão entupidas e transbordantes de excrementos”.

Os vereadores, dispersos, imediatamente voltaram sua atenção a Jânio quando o viram dirigir-se à tribuna com um pacote mal-amarrado. O mato-grossense estava prestes a criar sensação com a invenção de Cid, que pouco efeito provocara durante o pronunciamento do próprio socialista. Jânio começou em seu já conhecido estilo:

- Hoje, como sempre, procurando conhecer a real situação dos mercadinhos, passei a manhã, Sr. Presidente, meus colegas, no de Vila Maria, do qual trago impressão penosíssima. (...) Vila Maria, distrito humilde, proletário de nossa cidade, já se ressente de uma porção de falhas, já se ressente de uma porção de necessidades nunca atendidas e viu, então, neste mercadinho, uma esperança de facilidades na aquisição de alimentos, uma força reguladora do custo das mercadorias, um elemento suavizador da existência das camadas pobres do nosso povo.

Em seguida, Jânio desembrulhou o pacote e deixou à mostra do plenário um pedaço enorme de carne podre:

- Os refrigeradores, desligados. Um deles, Excelências, de madeira, desatendendo completamente as disposições do Serviço Sanitário. (...) Abri alguns desses refrigeradores desligados, sempre nos boxes destinados ao comércio de carne verde, e retirei deles carne destinada ao comércio, ao consumo da população, retirei uma posta indistintamente, ao azar, das muitas que lá existiam. Retirei, possivelmente, um quilo dentre dezenas de quilos, e trouxe-o para que Vv. Excias. o vissem: completamente podre, completamente pútrido, podre a ponto de não poderem Vv. Excias. sequer aproximar-se desta carne, em franca decomposição, violácea, desintegrando-se, e, não obstante, negociável pela falta de escrúpulos de um concessionário de banca, pela negligencia criminosa de um administrador que deverá, por este simples fato, sofrer inquérito administrativo rigoroso e receber punição exemplar.

Brasil Bandecchi

Nenhum Vereador atrevia-se a apartear, tal o inusitado de Jânio diante de um quilo de carne estragada. Brasil Bandecchi, vereador situacionista, tentou eximir o secretário de Higiene de qualquer culpa, que caberia à fiscalização da carne que saía do velho Tendal da Lapa. Jânio não aceitou a argumentação:

- V. Excia. me perdoe, a culpa é mesmo da Secretaria de Higiene, mas deve associar-se a ela de maneira indissolúvel esse administrador, porque a carne que eu encontrei, para a verificação do seu estado, não reclama cultura, mas exige apenas olfato, exige nariz. O mau cheiro que dela se exala é irreprimível e convido V. Excia. que é intemerato defensor do povo, da Bancada do Partido Social Progressista a examiná-la, embora à distância, neste recinto, agora, para que V. Excia. veja...

- Já vi, Excelência. – respondeu Bandecchi, encabuladíssimo.

- ... e permita aos colegas de V. Excia. verem o que anda acontecendo nos mercadinhos do Sr. Adhemar de Barros [governador, na época], destinados a favorecer o povo. (...) Aí tem V. Excia. a questão. Eu desafio qualquer um de Vv. Excias. a se aproximar sequer dela. (...) Eu não tive dúvidas em trazer esta carne a este recinto, porque se esta carne serve para o povo, serve para os representantes do povo. – concluiu Jânio, justificando haver trazido aquela porcaria para o plenário com palavras que poderiam tranqüilamente ter saído do discurso de Cid Franco, meses antes.

Cid e Jânio foram eleitos deputados estaduais em outubro de 1950. Deixaram a Câmara juntos e juntos entraram na Assembléia Legislativa, em março de 1951. Jânio subiu aos píncaros do êxito político. Cid montou sua trincheira na Assembléia, onde permaneceu por vários anos. A ascensão meteórica de Jânio contou com Cid em alguns momentos, e em outros fez dele um adversário. Em 1964 estavam separados e em lados opostos na arena política. Quando Jânio foi cassado, Cid verberou contra o ato governamental, na Assembléia. Pouco depois foi a vez de Cid perder o mandato para a revolução. Perguntado se aceitaria voltar à vida pública no caso de ser revertida sua cassação, Jânio respondeu que só aceitaria no momento em que fossem restituídos os direitos políticos de Cid Franco e dos outros cassados. O socialista comoveu-se com a atitude do velho colega. E morreu poucos anos depois.
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Combativo, valente e por vezes temerário, Cid chegou a ser alvo de atentados. Na foto o vemos no hospital, recuperando-se de um deles, e recebendo a visita do amigo e colega de Assembléia, Farabulini Jr.

Na lembrança de seus oponentes, ficou a imagem de um político radical, que defendia seus pontos de vista com um ardor por vezes excessivo. Mas na memória de quem vê a política de forma insuspeita, como uma atividade exercida única e exclusivamente para o bem da coletividade, Cid Franco foi o político mais puro, generoso e honesto que São Paulo já viu. Morreu mais pobre do que era quando entrou para a vida pública. Mas deixou para sua família um nome coberto de honra e de serviços prestados ao próximo. E a Indicação de agosto de 1948, que desencadeou o progresso da Vila Maria.
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